“Quase Deuses” (Something the Lord Made), lançado em 2004, é um drama biográfico que nos transporta para a turbulenta década de 1930, nos Estados Unidos assolados pela Grande Depressão. A trama gira em torno da improvável, mas inspiradora, parceria entre o cirurgião cardíaco Alfred Blalock (Rick Moranis), um homem brilhante, mas arrogante, e Vivien Thomas (Mos Def), um jovem negro talentoso e ambicioso.
Vivien, filho de um carpinteiro e criado em uma comunidade afro-americana marginalizada, nutre um sonho ardente: ser médico. No entanto, as barreiras sociais da época o impedem de realizar essa aspiração. Desesperado para sustentar sua família em meio à crise econômica, ele aceita um trabalho como zelador no renomado Hospital Johns Hopkins em Baltimore, Maryland.
Um Encontro Inesperado: O Destino une Blalock e Thomas
É nesse cenário que o destino entrelaça os caminhos de Vivien e Alfred Blalock. Fascinado pela anatomia humana desde a infância, Blalock ascendeu ao topo da carreira médica, tornando-se um cirurgião cardíaco pioneiro. Mas, apesar de sua inteligência e habilidades, ele se vê obcecado por encontrar uma solução para a “doença do bebê azul”, um defeito cardíaco congênito conhecido como Tetralogia de Fallot.
Impulsionado por sua ambição e pela urgência em salvar as vidas das crianças afetadas por essa condição, Blalock reconhece em Vivien um potencial extraordinário. Apesar das objeções da equipe médica, que questionam a capacidade de um homem negro de atuar em um cargo tão crucial, ele contrata Vivien como seu assistente.
Desafiando Preconceitos: Uma Parceria Improvável
A relação entre Blalock e Thomas é marcada por um choque inicial de culturas e costumes. As diferenças sociais e raciais se evidenciam, mas logo a determinação e a genialidade de ambos os homens os unem em uma jornada incansável em busca de uma solução para a “doença do bebê azul”.
Vivien, dotado de uma destreza excepcional em dissecção e sutura, se torna um assistente indispensável para Blalock nas complexas cirurgias cardíacas. Sua inteligência e meticulosidade complementam as habilidades do cirurgião, formando uma dupla improvável, mas extremamente eficaz.
A Jornada de Pesquisa: Noites incansáveis em busca da descoberta
Dia após dia, noites a fio, Blalock e Thomas se dedicam à pesquisa incessante em busca da técnica cirúrgica que salvará as crianças com Tetralogia de Fallot. O laboratório se torna seu campo de batalha, onde eles testam procedimentos em animais, dissecam corações e aperfeiçoam suas técnicas com meticulosa precisão.
O Nascimento da “Operação Blalock-Thomas”: Um marco na medicina
Após anos de árduo trabalho, perseverança e incontáveis experimentos, Blalock e Thomas finalmente alcançam o sucesso. A “Operação Blalock-Thomas” surge como um marco na história da medicina, abrindo caminho para o tratamento eficaz da “doença do bebê azul”. A técnica inovadora desvia o fluxo sanguíneo oxigenado para o coração das crianças afetadas, salvando milhares de vidas e oferecendo esperança a um futuro antes sombrio.
A Luta por Reconhecimento: Enfrentando as barreiras raciais
Apesar do sucesso da “Operação Blalock-Thomas”, a sombra do racismo paira sobre a conquista. A sociedade da época ainda não estava preparada para reconhecer as contribuições de um homem negro como Vivien Thomas. Enquanto Blalock recebe a maior parte dos aplausos e reconhecimento pelo feito histórico, Thomas é relegado a um segundo plano, sua genialidade e trabalho árduo frequentemente esquecidos.
Uma Amizade Improvável: A força da união diante das adversidades
Com o passar dos anos, a relação entre Blalock e Thomas transcende a mera parceria profissional. Uma profunda amizade se desenvolve entre os dois homens, unindo-os por um laço de respeito mútuo e admiração pelas habilidades e qualidades de cada um.
O Legado de Vivien Thomas: Uma história de superação e justiça
O filme culmina com a morte de Blalock em 1958. Anos depois, em um momento de justiça tardia, Vivien Thomas finalmente recebe o reconhecimento merecido.
Revelando a Verdade: Um caminho para o reconhecimento
O filme não termina apenas com a morte de Blalock. Ele dá um passo adiante para trazer à tona a injustiça cometida contra Vivien Thomas. Décadas depois, em 1971, a prestigiada Escola de Medicina Johns Hopkins finalmente concede a Thomas um título honorário de doutorado em ciências.
Esse ato simbólico, embora tardio, representa um reconhecimento oficial da crucial participação de Thomas na descoberta da “Operação Blalock-Thomas”. A cena final mostra Vivien Thomas dando um discurso emocionado para uma plateia repleta de jovens médicos, inspirando uma nova geração a lutar contra barreiras e buscar a excelência científica.
Uma História de Superação e Luta Contra o Preconceito
“Quase Deuses” é mais do que apenas um filme biográfico sobre um avanço médico. É uma história sobre a superação de obstáculos e a luta contra o preconceito racial. O filme destaca a genialidade e a dedicação de Vivien Thomas, um homem negro que quebrou barreiras em uma época de segregação racial.
Mesmo relegado a um papel secundário, Thomas contribuiu decisivamente para uma descoberta científica que salvou inúmeras vidas. Sua história serve de inspiração para todos aqueles que lutam contra a discriminação e buscam alcançar seus sonhos, independentemente de sua origem ou cor de pele.
O Dilema Ético: Reconhecimento e Ambição
O filme também suscita uma reflexão sobre o dilema ético envolvido na busca por reconhecimento científico. A ambição de Blalock, embora tenha sido o catalisador da descoberta, acaba por ofuscar a contribuição inestimável de Thomas.
A narrativa levanta questionamentos sobre a importância de dar crédito a quem o merece e a necessidade de combater o egoísmo no meio acadêmico.
Uma Lição de Amizade e Respeito
A amizade improvável entre Blalock e Thomas é um dos pontos fortes do filme. Apesar das diferenças de classe e raça, os dois homens desenvolvem um profundo respeito mútuo, destacando o poder da conexão humana que pode transcender barreiras sociais.
A parceria entre eles serve como uma lição valiosa sobre a importância da colaboração e do reconhecimento do talento, independentemente de origens.
Conclusão: Um Filme Inspirador e Reflexivo
“Quase Deuses” é um filme inspirador e reflexivo que vai além do entretenimento. Ele nos leva de volta a um período conturbado da história, nos faz refletir sobre questões sociais importantes e, ao mesmo tempo, celebra o triunfo da ciência e da amizade humana. O filme é um tributo ao legado de Vivien Thomas, um herói anônimo que mudou a história da medicina e que merece ser lembrado por sua genialidade e dedicação.